Hoje está na moda falar de certificações, boas práticas, metodologias, MBAs e outros termos técnicos, além de buscá-los para enfeitar curriculuns e resumos profissionais. Porém, muitos dos gerentes de projeto que buscam alimentar seus curriculuns com estes títulos, como se estivessem dando comida para os seus Tamagotchis, esquecem de que sem a atitude correta estes títulos não valem muita coisa, e assim como os bichinhos virtuais da década de 90, podem morrer com alimentação errada ou excessiva.
Os títulos, certificações e curriculuns longos não podem tomar o lugar das atitudes, e as experiências vivências a partir de atitudes corretas são as mais indicadas para se tornar preparado para o mercado de trabalho real.
Ainda é fácil encontrar gerentes de projeto que se acham “deuses“, ou “super homens“, e que acreditam que podem resolver tudo sozinhos. Estes “super homens” geralmente não dão ouvidos a ninguém, inclusive aos membros da sua própria equipe, por acreditar que o único dono da verdade é ele próprio.
Estas atitudes são como bombas relógio armadas e em contagem regressiva. O gerente que acredita ter super poderes e que pode resolver tudo sozinho comete alguns erros básicos de gerenciamento que podemos listar resumidamente:
- Absorve mais tarefas do que é possível realizar, inclusive tarefas que não são de responsabilidade do gerente;
- Não delega o suficiente;
- Não confia em ninguém, nem mesmo na sua própria equipe;
- Apesar de acreditar ser um super homem, com o tempo deixará de transmitir confiança, porque fará parte do seu histórico não entregar trabalhos acordados, ou completar atividades comprometidas. Justamente porque não conseguirá dar conta de tudo sozinho;
- Não ouve ninguém, e sempre se porta como o dono absoluto da razão;
- Contribuirá para a geração de ambientes hostis, criando mais “inimigos” do que “amigos”;
- Não compartilhando, não terá com quem trocar experiências para aprender com os próprios erros e com os erros de seu time; e,
- Continua a cometer sempre os mesmos erros.
Estes são apenas alguns problemas e falhas básicas que um gerente estilo bomba relógio acumula ao longo da sua vida em projetos. Não precisam acontecer todos juntos, nem em ordem, e outros podem fazer parte desta lista. O mais importante é, que se você conseguir se enxergar em um destes itens, pode ser que sua bomba relógio já esteja armada e pronta para explodir.
Um dos erros ainda muito comuns e que de uma certa maneira acarretam outros, inclusive estes listados acima, é a falta de transparência, clareza e até honestidade dos gerentes de projeto.
Esta falha é tão básica, mas ao mesmo tempo tão grave que foi ela que deu o nome a este post, pois é o erro que serve de exemplo mais forte e mais impactante de uma bomba relógio.
Quando o gerente de projeto acredita que pode resolver tudo e que é um super homem, ele não admite que erra, e que precisa de ajuda. Ai a bomba é armada e a contagem regressiva começa, porque este tipo de GP não vai assumir que o seu projeto tem um problema, que um gatilho de um risco foi acionado, ou que até mesmo uma falha dele, ou uma falha que ele não viu irá gerar um impacto no projeto.
Quem nunca conheceu aquele gerente que todos os seus Status Reports estão verdes, e sempre que alguém pergunta sobre o projeto ele responde que está tudo bem, porém sem mais nem menos o cliente coloca a boca no trombone e ele volta dizendo: “veja bem …“.
Esta é uma das mais perigosas atitudes de um GP, porque ao pensar desta maneira, ele não levará o problema ao cliente, a sua equipe, e muito menos a sua gerência sênior interna. A maioria dos GPs super homens acredita que se ele esconder o problema por um tempo, ele conseguirá resolvê-lo sozinho e ninguém irá perceber que houve uma falha em seu projeto. Neste momento é como se um desarmador de bombas cortasse o fio errado, lembram-se dos filmes onde aparece aquela dúvida, do fio vermelho ou preto, então, neste caso não importa qual é o fio certo, o GP terá cortado o fio errado e a contagem regressiva acelerará.
A regra básica para se resolver problemas e tratá-los imediatamente, este é um dos motivos do gerenciamento de riscos. A equipe de gerenciamento tenta prever riscos e se preparar para eles, porém, é impossível prever, mitigar ou eliminar todos os riscos. Por isso eles vão aparecer em forma de problemas ou mudanças não previstas em qualquer projeto, e isso não significa falha de gerencimento e incompentência do GP.
Eu ouvi a pouco tempo do COO da empresa em que trabalho, que um gerente de projeto nunca deve ser demitido por trazer um problema a tona e pedir ajuda para resolvê-lo, mas com certeza será, se ele esconder ou não tratar o problema imaginando ou esperando que ele se resolverá sozinho.
Esta é a mais pura verdade. Não há como os problemas se resolverem sozinhos, e dificilmente um gerente de projeto conseguirá resolver todos os problemas por conta própria, mesmo porque não há motivo para isso. O GP precisa auxiliar a equipe na identificação de problemas, na monitoração destes, e se por ventura eles ocorram, o GP deve acionar os melhores profissionais para resolvê-los, e nunca esconder a sujeira embaixo do tapete.
Portanto, pense realmente como um gerente de projetos, e um coordenador de ações e equipes. Se um problema aparecer, mobilize a equipe, exponha o problema, peça opiniões, escute o que os membros da sua equipe tem a dizer, e em equipe discuta e decida a melhor solução e trace um plano de ação para mitigar ou eliminar o problema.
Em alguns casos como problemas ou falhas na gestão ou execução que possam gerar requisições de mudança, e que possam afetar o custo e o cronograma do projeto, escale o problema, leve ao conhecimento da sua gerência sênior, pois eles também fazem parte da sua equipe e podem ajudá-lo a análisar e aprovar a mudança juntamente com o cliente. A gerência sênior e seu cliente devem ser seus parceiros, e não seu concorrentes.
Com estas últimas atitudes, aquela lista de falhas são facilmente corrigidas e vários aspectos do gerenciamento vão melhorar, principalmente a confiança e a credibilidade do gerente de projeto.
Lembre-se: Escondendo os problemas embaixo do tapete, vão apenas postergar o aparecimento dos mesmos, e quanto mais se demora para resolver um problema, maior ele se torna, mais difícil será a sua resolução e maior ainda será o seu impacto.
Por isso eu fiz a analogia com a bomba relógio, pois esconder um problema é armar a sua própria bomba relógio, e se a bomba vir a explodir possivelmente os estragos serão irreversíveis, tanto no seu projeto, quanto na sua carreira.
Então, trabalhe com a sua equipe, e mesmo que a bomba relógio se arme, ou já esteja armada ai no seu projeto, chame o esquadrão anti-bomba, grite para todos a quantidade de explosivo que tem na bomba, e nunca se esqueça que o quanto antes você pedir ajuda, mais tempo sobrará para desarmar a bomba, e cortar o fio correto.
