O DIFERENCIAL DOS PROJETOS INTERNACIONAIS

Muito se fala atualmente sobre as competências do gerente de projetos, as características mais esperadas, quais as formações mais adequadas e é claro, a importância das experiências anteriores. Cada empresa monta o seu próprio conjunto de requisitos combinando vários aspectos destes itens formando um perfil desejado para a ocupação de seus cargos gerenciais.

É reconhecido por praticamente todos da área, e por muitos que pretendem iniciar sua experiência profissional como gerente de projetos, que:

  • Formações acadêmicas na área específica em que se pretende atuar, tais como TI ou engenharia, somam vários pontos ao curriculum;
  • Certificações como a PMP, combinadas ou não com uma MBA ou pós graduação ainda são consideradas um destaque competitivo;
  • Características de personalidade e competências que são especificamente consideradas favoráveis a esta área de atuação também compõem os pontos positivos; e,
  • Experiências anteriores e vivências em ambientes de projetos são fundamentais para a formação de um gerente.

Porém, se me perguntarem se só isso basta, a resposta que me vem a cabeça rapidamente é que não. O mercado profissional de um modo geral está cada dia mais competitivo e feroz, e as empresas menos satisfeitas com seus profissionais anteriores, e mais exigentes em suas novas contratações.

Vou contar alguns dos desafios que estou vivendo atualmente na minha carreira, e que estão me mostrando que nunca é o suficiente e que temos que estar sempre buscando melhorarevoluircorrigir falhas, se aperfeiçoar e se adaptar a novos ambientes e as mudanças inevitáveis.

Este meu mais novo desafio, que posso confessar ser o maior que já enfrentei, se chama Projeto Internacional. Eu já havia passado por algumas experiências internacionais anteriores, mas nada que se compare ao que estou vivenciando agora.

Idioma

O primeiro de todos os desafios é o idioma. O caso que vou usar como base para este pequeno artigo está no seguinte cenário:

O cliente é uma grande empresa alemã com uma filial expressiva no Brasil. A empresa contratada também é uma multinacional, com equipes de várias filiais, espalhadas por diversos países, alocadas no projeto. Por isso o idioma oficial, inclusive no Brasil, é o inglês.

Todos os documentos oficiais do projeto que devem ser lidos e produzidos, todos os emails que circulam entre as equipes, todas as reuniões presenciais e virtuais (voz e video) são realizadas em inglês. No meu caso, mesmo eu já tendo vivenciado experiênciais reais com o idioma inglês, como um intercâmbio que fiz no Canadá em 2009, nada se compara a esta experiência.

Equipes virtuais

A experiência se torna ainda mais desafiadora quando combinamos o idioma as equipes virtuais que trabalham no projeto. Neste caso em especial o cliente fica em São Paulo, e as equipes de gerenciamento e execução ficam em Florianópolis (onde eu estou), LondresSérviaEUA e provavelmente teremos equipes na Índia.

Os encontros e contatos não são exporádicos como alguns podem pensar. Imagine um projeto normal com toda a equipe local em um mesmo espaço físico, a frequência dos contatos é bem próximo a isso considerando as limitações de fuso horário e distância. Nossas principais ferramentas são o telefone, e a internet com video, voz e dados. Com exceção das equipes do cliente, eu sou o único brasileiro no projeto, e isso exemplifica bem uma situação de equipe virtual.

Diferenças de fuso horário

O gerenciamento muda em vários aspectos, e temos que passar a considerar as diferenças de fuso horário que afetam diretamente as agendas de toda a equipe. Sendo que esta questão é considerada um risco, e por isso gerenciada como tal e tratada como risco de médio para alto impacto.

Os sistemas de gerenciamento e mensagens, como email por exemplo, precisam estar bem configurados para não haver bagunça de fuso horário e confusões com agendas. Além de que precisamos ficar sempre atentos para a hora que estamos citando em comunicações ou até em contatos telefônicos. Por exemplo, quando marcamos algum compromisso as 9 horas, devemos citar qual o fuso horário de referência, caso contrário poderemos perder uma reunião importante por aparecermos as 9 horas do nosso fuso, sendo que a reunião ocorreu as 9 horas de Londres.

Diferenças culturais

As diferenças culturais são um dos itens que aparecem com grande força neste tipo de projeto internacional. Precisamos fazer com que a equipe trabalhe bem em grupo, e que apesar das diferenças existentes elas consigam atingir o mesmo objetivo comum. Então temos que prestar atenção em detalhes importantes da cultura de cada profissional envolvido, seja referente a religião, horários, costumes, características de alimentação, leis, família e comportamento.

Um item que destaco aqui é a pontualidade. Por diversas vezes tive experiências no Brasil com equipes que não se preocupavam muito com a pontualidade em reuniões, onde o atraso era levado na esportiva, e uma reunião marcada para as 10, começava as 10:15, 10:30 … 11:00, e em alguns casos até mais.

No caso dos canadenses, americanos e principalmente os europeus, a pontualidade é extremamente valorizada, e quando consideramos equipes virtuais esta questão se torna ainda mais importante. As situações em que várias pessoas, em diversas regiões diferentes, se conectam ao mesmo tempo por telefone ou internet se repetem ao longo de todo o projeto, praticamente todos os dias, fazendo do cumprimento dos horários um valor muito apreciado.

Orçamentos e custos

Nestes modelos de projetos normalmente haverão mais gastos com telefone e viagens, então é preciso dar uma atenção ainda mais especial ao gerenciamento financeiro do projeto. O desperdício não é bem vindo em nenhum projeto, porém neste caso desperdiçar uma viagem intercontinental pode representar uma perda bem maior do que uma corrida de taxi.

Conclusão

A experiência que se adquire em projetos internacionais é muito grande, muito valiosa e muito enriquecedora, tanto para a experiência profissional quanto para a vida pessoal.

A troca de experiências é intensa, conseguimos aprender muito com os estrangeiros e com certeza ensinartambém. É muito interessante entendermos que muitas das nossas boas práticas aqui no Brasil são as mesmas que eles realizam lá fora, com algumas diferenças que podemos absorver e melhorar.

A dica que eu deixo para o final é que se for de seu interesse crescer nesta área de projetos e vivenciar experiências profissionais como esta, invista parte do seu tempo no estudo de idiomas como o inglês.

Para os profissionais competentes e bem qualificados o idioma se torna o único obstáculo para uma experiência internacional, principalmente porque o Brasil está em pé de igualdade com todos os outros países em matéria de tecnologia, boas práticas, metodologias, qualificações e educações especializadas. Por isso, com apenas algumas exceções, podemos trabalhar em projetos do mundo todo, desde que possamos nos adaptar a alguns dos pontos que mencionei neste artigo, e principalmente falar a língua oficial do projeto.

Bom, finalizando eu deixo mais um desafio, além de todos os outros que temos que vencer, para nos tornarmos bons profissionais da área de gerenciamento de projetos, nos tornarmos fluentes em pelo menos um idioma. Com certeza será um diferencial ter esta fluência, e a experiência profissional proporcionada por ela.

Dica: Como estímulo adicional, lembre-se que até para estudarmos e pesquisarmos mais profundamente alguns assuntos específicos nesta área apaixonante que é o gerenciamento de projetos, precisamos do inglês. Muitas bibliografias não possuem tradução para o português, e quando são originais de um outro idioma, como o Francês por exemplo, será mais fácil encontrar uma tradução para o inglês.

Lembre-se: Estude … and Study … et Étudiez