CADÊ O GERENTE? EP. 4 – CONDOMÍNIO EMPRESARIAL

Em 2013 estou trazendo de volta a série Cadê o Gerente?

No episódio “Condomínio empresarial” vamos falar um pouco sobre atender e, fundamentalmente, envolver os Stakeholders.

Quando se realiza um projeto de construção de um condomínio empresarial quem é o principal Stakeholder e a quem o projeto deve atender? Bom, esta resposta não é difícil, mas também não é simplesmente fácil.

A todos, eu diria.

É preciso ter um padrão mínimo de infraestrutura para atender as necessidades das empresas e não ser muito caro, porém é preciso atender além dos empresários e das situações comerciais, as pessoas que trabalharão diariamente neste condomínio, e que por trás das empresas são as que compõem, formam e estruturam as organizações.

O condomínio empresarial usado como exemplo para este post, está localizado no município de Florianópolis, é relativamente novo e de construção recente, que atende muito bem as necessidades das empresas, mas deixa muito a desejar nos requisitos de qualquer usuário final, como os funcionários e os visitantes por exemplo.

Este condomínio possui vários prédios que não são conectados diretamente. Como pode ser visualizado na imagem anterior não há ligação coberta entre os prédios a as coberturas contra chuva só estão em partes do condomínio, basicamente na frente das portas das empresas, mas que não aparecem nas conexões entre os prédios e em um momento de chuva como o registrado na imagem acima, os funcionários e visitantes se molham ou precisam correr de um lado para o outro para não se molharem.

Nem para tomar um café os frequentadores do condomínio escapam da chuva, na imagem abaixo é possível visualizar que há uma cobertura que termina um pouco antes do café. Neste ponto há uma análise interessante, se o importante é atender aos empresários e não aos funcionários, em dias de chuva os funcionários não vão tomar café para não se molharem, o que prejudica o empresário dono do café … e então, ainda acha que alguns Stakeholders não devem ser considerados ou são menos importantes?

Se fosse um condomínio apenas direcionado aos que se locomovem com carros, tudo bem, pois estes conseguem chegar de carro no estacionamento subterrâneo e chegam sequinhos em seus escritórios pelas coberturas que fazem um corredor até as empresas, certo? Errado! Assim como pode ser visualizado nas imagens neste post, as coberturas não estão em todos os prédios, então nem todos os que vão de carro conseguem escapar da chuva, principalmente quando são fortes e com ventos.

Aos que vão de ônibus ou chegam no condomínio de taxi ou de carona e precisam desembarcar na frente do condomínio os problemas são ainda maiores.

Não há muitas alternativas além de se molhar em uma corridinha básica até a primeira cobertura disponível. Não há conexão coberta com o ponto de ônibus na frente do condomínio, e pior, não há ponto de ônibus na frente do condomínio para os dois sentidos, só há um ponto do mesmo lado dos prédios, do outro lado da rodovia não há um ponto de ônibus e muito menos uma passarela para o lado oposto. As pessoas que dependem de ônibus, que não são poucas, precisam caminhar em torno de 10 minutos pela rodovia, o que não é nem um pouco agradável em dias de chuva forte e com vento, além de precisarem atravessar um túnel escuro e perigoso por baixo da rodovia.

Então eu pergunto Cadê o gerente deste projeto? Alguém consultou os Stakeholders que iriam usar as dependências do condomínio diariamente, e que seriam os mais prejudicados ou beneficiados com pequenas mudanças na estrutura, como coberturas que ligassem todos os prédios, pontos de ônibus e passarelas?

Este é o tipo de projeto onde a comunidade é uma das mais beneficiadas, ou não, com um projeto bem planejado e projetado e que envolva os que devem ser envolvidos.

Alguns podem dizer que muitas destas questões não são de responsabilidade de quem construiu e planejou o condomínio, mas sim da prefeitura como as passarelas e o ponto de ônibus. Bom, se os projetistas tivessem envolvido a prefeitura como parte interessada poderiam ter acordado incentivos fiscais e disponibilizado estes “pequenos” detalhes para a comunidade local e para os que iriam utilizar o condomínio.

Outro exemplo é o retorno para quem vai de carro. Apenas por um dos lados da rodovia se tem acesso logo a frente do condomínio, para quem vem no sentido oposto é preciso fazer um retorno de aproximadamente 5km, sendo que uma simples alteração na rodovia, como um acesso estilo “mão inglesa” resolveria o problema de todos.

Alguns ainda não entendem a importância de considerar as partes interessadas como itens de sucesso de um projeto, áreas como qualidade, custos e tempo são mais destacadas, até por aparecerem como áreas de estudo explicitas em boas práticas como as do Guia PMBOK. Porém, agora, o Guia PMBOK quinta edição explicitou e evidenciou a real importância dos Stakeholders, dando a eles uma área de conhecimento específica intitulada de Gerenciamento das partes interessadas.

Porém, como pode ser visto no exemplo deste post, na verdade, as partes interessadas de um projeto se bem gerenciadas e devidamente envolvidas no projeto serão a chave do seu sucesso, ou se negligenciadas poderão se tornar o principal motivo do fracasso.

Ahh mas e a qualidade, os custos e o prazo?

Todas estas variáveis, e mais algumas, estão totalmente e constantemente ligadas as partes interessadas envolvidas com o projeto, não é possível atender a requisitos de qualidade sem levar em consideração as expectativas e necessidades dos Stakeholders. Da mesma forma não é factível cumprir prazos sem determinar estes prazos em conjunto com quem espera por eles, e muito menos considerar que os custos foram bem controlados sem ter envolvido quem tem o interesse principal sobre a área financeira do projeto.

Então é mais importante que o projeto atenda aos Stakeholders do que as outras variáveis do projeto? De maneira geral sim, porque por trás de todas as variáveis estarão os Stakeholders esperando pelos resultados. A direção da empresa executora espera por custos menores, a empresa contratante espera pelo prazo cumprido e os usuários finais do produto esperam pela qualidade, sendo que algumas vezes todos estes fazem parte do grupo que irá usar o produto final, e por isso todos querem qualidade.

Qualidade? Mas o que é qualidade em um projeto? Bom! isso depende de quem está esperando por ela e como ela é descrita.

Qualidade não é o mais caro, não é o mais bonito e não é o que a equipe de execução ou até mesmo o GP diz que é qualidade, mas sim é o que o usuário final do produto do projeto espera por ele. É claro que os custos e os prazos atendidos também são fatores de qualidade, e também vão entrar na conta do projeto e vão somar no resultado de sucesso ou não, mas vamos ficar por enquanto só com a qualidade que é o exemplo focado neste post.

Este é um exemplo de projeto que os usuários finais deveriam ter sido envolvidos e as suas necessidades deveriam ter feito parte dos requisitos de qualidade do projeto. Este projeto teve várias falhas que prejudicam seus usuários, e muitos podem dizer que não são de responsabilidade ou culpa do GP, mas sim de engenheiros, arquitetos e outros profissionais de outras áreas, mas eu digo que todos estes podiam ter utilizado as boas práticas do gerenciamento de projetos, e vestido o chapéu de GPs por vários momentos, sendo que neste caso poderiam ter exercitado a área de gerenciamento das partes interessadas e da qualidade do projeto.

Não são apenas os profissionais nomeados como gerentes de projetos que gerenciam ou influenciam projetos, e mais uma vez fica a pergunta e provocação: Cadê o gerente?

Esperam que tenham gostado e da próxima vez não esqueçam o guarda chuva em casa!