A CONFERÊNCIA – PARTE 5/5

Na última parte do evento, recebemos o brasileiro Alonso Mazini Soler, que palestrou sobre a Aplicação do método da corrente crítica, na corrida da São Silvestre 2010.

O estudo de caso demonstrado foi muito interessante, curioso e ainda conseguiu incentivar os participantes a pensarem na melhoria da qualidade de vida, e aplicarem o gerenciamento de projetos em áreas mais comuns do nosso cotidiano, e não só na vida profissional.

Alonso, sempre foi praticante de esportes como corrida e trekking, e resolveu no ano de 2010 participar da corrida de São Silvestre em São Paulo. Porém, não foi simplesmente para correr, decidiu montar uma equipe de projeto e trabalhar na aplicação do método de corrente crítica (CCPM – Critical Chain Project Management) para atingir o objetivo da prova de rua mais famosa do Brasil.

Eles montaram uma sala de controle nas proximidades da avenida paulista, com toda a infraestrutura necessária para manterem uma comunicação com o Alonso durante os treinos, e ainda transmitirem via internet os resultados obtidos durante o estudo.

Alonso frisou que o objetivo da corrente crítica é fazer com que se atinja o objetivo do cronograma estipulado, e se for possível antecipar o prazo estimado. E foi este o objetivo definido para o projeto da corrida.

O tempo estimado por eles, baseado nas experiências anteriores do Alonso, foi de 01h44m. No entanto, este prazo seria o caminho crítico, sem folgas ou pulmões. Ao aplicarem a CCPM, o prazo de conclusão da prova passou para 52m, com um pulmão também de 52m.

Após o planejamento, e as execuções das etapas de treino, inclusive com os testes de todos os equipamentos tecnológicos estipulados, o dia da prova foi um sucesso. Além de cumprir a corrida, Alonso conseguiu realizar a prova em 1h25m19 minutos abaixo do tempo inicialmente estimado, e ainda com uma reserva de pulmão.

Muitos podem dizer que foi questão de sorte, mas com certeza se analisarmos do ângulo de gerenciamento de projetos, podemos ver as aplicações que levaram a equipe a atingir os objetivos. Houve planejamentostreinostestes, e uma execução muito bem controlada, e toda a prova foi transmitida em tempo real para os seguidores do Alonso no Twitter, que até conseguiam sugerir estratégias, e estas chegavam aos ouvidos do Alonso via telefone celular. Então será que foi mesmo sorte, ou o resultado de um bom planejamento realizado e executado?

Mais informações sobre esta aplicação do método CCPM podem ser conseguidos no grupo chamado “Corre GP” na comunidade do Facebook. Eu já sou um dos seguidores.

Como mensagem final, Alonso nos deixou o seguinte recado: “O método CCPM não resolve todos os problemas, mas permite acompanhar e tomar as ações corretivas para manter o projeto dentro do prazo.”

Saindo da corrente crítica, fomos ouvir Ricardo Triana, membro do corpo diretivo do PMI-USA, palestrar sobre a Obtenção de resultados empresariais através do gerenciamento de projetos.

Com um sotaque divertido, Ricardo que apesar de não ser brasileiro, usou um português fluente e de fácil entendimento para nos afirmar que o gerenciamento de projetos não é necessário quando não temos cobranças, quando temos dinheiro sobrando e sempre, e quando temos tempo a vontade para a execução do projeto.

Onde podemos encontrar este local? Foi a pergunta que todos fizeram, inclusive o próprio Ricardo, e aproveito para deixá-la aqui em aberto.

Além disso, Triano nos falou sobre alguns dos desafios do gerenciamento de projetos, onde eu destaco os seguintes:

  • Equilíbrio entre recursos e cronograma;
  • Globalização e equipes virtuais;
  • Inovações e mudanças constantes;
  • Responsabilidade social;
  • Alinhamento entre projetos e programas com a estratégia da organização.

Para finalizar, ele nos contou uma história que vou tentar reproduzir abaixo:

Um jardineiro foi ao seu jardim e plantou várias plantas diferentes. Ao retornar ao seu jardim algum tempo depois, viu que suas plantas estavam mortas, e se aproximando do pinheiro perguntou:

  • “Pinheiro, porque morreu?”, e o pinheiro respondeu:
  • “Por que você me plantou um pinheiro, e não queria ser um pinheiro, eu sou muito grande, eu queria ser uma pequena rosa”.

O jardineiro achou muito estranho, e se dirigiu até a rosa, chegando lá percebeu que a rosa também havia morrido, e ao perguntar porque a rosa morreu, obteve a seguinte resposta:

  • “Por que você me plantou uma pequena rosa, com espinhos, e eu não queria ser uma rosa, eu queria ser um grande e forte carvalho”.

O jardineiro achou tudo mais estranho ainda, e foi até o grande carvalho, chegando lá viu que a grande árvore também havia morrido, e não se contentando perguntou por que ele havia morrido, e o carvalho o respondeu:

  • “Por que eu não queria ser um forte carvalho, sou muito grande e sem movimento, queria ser um delicado jasmim”.

O jardineiro mais uma vez estranhou tudo isso e antes de perder a esperança foi até o seu jasmim, chegando lá viu que o jasmim estava vivo, bonito e alegre, ao lhe perguntar o porque de não ter morrido, a flor respondeu:

  • “Por que você me plantou como um jasmim, e eu adoro ser um jasmim e sou muito feliz.”

Todos nós rimos da história, e até nos perguntamos rapidamente o porque da narração, e o Ricardo concluíu que não devemos tentar ser o que não somos, e não devemos querer transformar as pessoas ao nosso redor em quem elas não são. Cada um tem o seu papel, a sua função, e se todos estiverem onde realmente devem e querem estar, serão felizes e atingiram o sucesso.

Com a responsabilidade de encerrar o ciclo de palestras, a executiva Graça Foster da Petrobrás, nos falou um pouco sobre o funcionamento dos projetos na Petrobrás e os grandes desafios da empresa.

A Petrobrás está trabalhando em novos projetos com parceiras como a portuguesa Galp e a espanhola Repsol. Nos últimos 10 anos investiou um montante de $188 bilhões em projetos, e já tem planejado investir outros $224 bilhõesde 2010 à 2014, sendo 53% destes projetos da área de exploração e produção, inclusive o pré-sal.

Graça afirmou que com um cenário destes, é completamente impossível realizar estes projetos sem a aplicação de um gerenciamento de projetos eficiente. Todos os projetos da empresa são integrados e estruturantes, não há projetos isolados e desconectados na companhia, e seguir metodologias e boas práticas são imprescindíveies e praticamente obrigatório entre os GPs da Petrobrás.

Um dado impressionante, foi que ela afirmou que não há nenhum projeto na Petrobrás com VPL negativo, e isso para quem gosta de evidências, significa sucesso nos projetos.

Ela também nos deu exemplos de boas práticas realizadas na Petrobrás, que com certeza contribuem para o sucesso dos projetos, sendo que destaco algumas abaixo:

  • O corpo diretivo é alinhado com os mesmos pensamentos, práticas e padrões, sendo este pensamento unificado um dos segredos para atingir o objetivo estratégico da empresa.
  • Verificação diária dos marcos dos principais projetos, onde existe um “paredão” que todos visualizam as escorregas de prazo, que ficam em vermelho destacado.
  • Comunicação vertical e horizontal, mantendo rapidez e objetividade, não tendo frescura de hierarquia.
  • As verificações e a captura de status das obras, são realizada in loco, ela praticamente não utiliza a sua sala para reuniões, as reuniões são todas realizadas no local de execução das obras.
  • Curva S é a companheira inseparável.
  • Não deve haver mais de um coordenador (“dono”) de uma mesma tarefa, “se não vai dar água”.

Além destas práticas, ela citou uma em especial, que garantiu fazer uma diferença muito grande nos projetos que ela coordena. Todos os responsáveis por tarefas na empresa, possuem além de nome e telefone, uma foto, pois todos possuem um rosto, e este rosto precisa ser conhecido e as conversas e decisões precisam ser olho no olho. Graça coordena 8.000 pessoas, e destes, afirma ela, não mais que 200 são desconhecidos para ela.

Graça fechou dizendo que um gerente de projeto precisa “ter o olho vermelho“, o famoso “sangue no olho“, não pode ter aquele olhinho branquinho, calmo e cansado. Então fica ai a dica para todos que almejam cargos expressivos em gerenciamento de projetos em empresas como a Petrobrás, tenha sangue no olho, ou como dizem os bons paulistas, “é sangue no zóio“.